quarta-feira, 1 de setembro de 2010 | By: Reginaldo de Melo

Missão em Actos dos Apóstolos

Título: Missão em Actos dos Apóstolos
Texto: Actos 1.8
Introdução: o conceito Lucano de missões estabelece a importância que há em absorver um completo entendimento dos propósitos de Deus para a Igreja. Assim apresentaremos o papel do Espírito Santo em Actos e assim ver como isso afectou a história das missões primitivas e não só, afectou missões de uma forma geral.
Argumentos:
I. O revestimento de poder:
Primeiro de tudo, há uma crucial conexão entre o baptismo no Espírito Santo e a efectividade de fazer missões. Isto pode ser visto no mutual relacionamento entre estes três versos (Lc. 24.49; Act 1.8; Act 2.4). Vejamos:
“E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai porém, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder”.
“Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra”.
“E todos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem”.
O recebimento deste poder pelos discípulos indica que eles passariam a ser os precursores do ministério terreno de Jesus, ou seja, eles deveriam continuar a fazer e ensinar o que Jesus havia começado a fazer e a ensinar, daí Lucas iniciar sua apresentação dizendo o alvo do livro: “Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo quanto Jesus começou a fazer e ensinar, até o dia em que foi levado para cima, depois de haver dado mandamento, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera” (Lc 24.49).
Nota: o mandamento de Actos 1.8 continua válido para o século XXI.

II. Sinais e prodígios:
Os sinais e prodígios que ocorreram em Actos vieram a confirmar Marcos 16.15-19. Confirma também João 16.7, em relação a presença de Jesus, que embora estivesse ausente no físico, estava presente pela presença constante do Espírito Santo com eles e neles. Jesus disse: “Todavia, digo-vos a verdade, convém-vos que eu vá; pois se eu não for, o Ajudador não virá a vós; mas, se eu for, vo-lo enviarei.”
É preciso notar que sinais e prodígios tinham já sido feitos pelos discípulos antes do baptismo no Espírito (ex. comissão dos doze e dos setenta, Mateus 10.8 e Lucas 10.17), todavia Jesus estava presente e havia comissionado eles; mas neste caso aqui Jesus já tinha se ausentado para os céus, por isso necessitavam de alguém que o substituísse, é aí que o Espírito Santo assume um papel preponderante na vida da Igreja, ele reveste a Igreja de poder para a missão que Deus delegou a mesma para realizar.
As línguas servem como uma indicação verbal do revestimento do Espírito, todavia temos que convir que os sinais, inclusive as línguas, não são o fim, mas meios para atrair pessoas ao Evangelho, a regra geral implica que sinais seguem a pregação e são usados por Deus como chave para abrir o caminho para sua aceitação.
Nota: por vezes há excepções a regra, uma vez que Elimas, que se opunha que a mensagem do Evangelho fosse pregada ao Proconsul Sergio Paulo, ficou cego temporariamente como castigo de Deus (cf. Actos 13.4-12).

III. Actos 1.8, missão paralela e não sequencial:
Actos 1.8 revela as últimas palavras de Jesus na terra. Essas palavras determinavam que a missão da Igreja deveria uma natureza centrífuga, contrária a de Israel que teve uma natureza centrípeta, ou seja, Actos deveria 1.8 deve ser entendido como algo paralelo e não sequencial, como muitos erradamente interpretam, assim o alvo do revestimento era dar a missão da Igreja um carácter universal.
O revestimento (uma vez que estamos vestidos da salvação) do Espírito indica poder à Igreja para capacita-la a missão destinada a mesma, e isto incluiu até mesmo a Jesus, vejamos:
Revestido de poder (Lc 3.22): “...e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como uma pomba; e ouviu-se do céu esta voz: Tu és o meu Filho amado; em ti me comprazo.”
Provado (Lc 4.1): “Jesus, pois, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão; e era levado pelo Espírito no deserto”
Ministério (Lc 4.14): “Então voltou Jesus para a Galiléia no poder do Espírito; e a sua fama correu por toda a circunvizinhança.”
Vingren, o pioneiro das ADs de língua portuguesa não via diferença entre as missões levadas a cabo em casa e aquelas do campo missionário. Vingren entendeu que a Igreja Cristã é por natureza missionária, e que sua missão é essencialmente uma, nomeadamente, fazer discípulos de todas as nações.
O maior vulto pentecostal sueco, Lewi Pethrus, dizia que é imperativo que a Igreja não subestime o trabalho missionário, uma vez que é tão relevante quanto a igreja local.

IV. Perseguição, preconceito, universalidade e evangelização:
Erradamente, muitos enfatizam o dia de Pentecostes pelo facto dos crentes terem falado em novas línguas, contudo a ênfase não deve ser posta aí, mas no evento em si.
Primeiro, o evento marca o início dos últimos dias, profetizado em Joel, que diz:
“Acontecerá depois que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos anciãos terão sonhos, os vossos mancebos terão visões; e também sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito” (Joel 2.28-29). O apóstolo Pedro conecta o evento com Joel (Act 2.16-18).
Há duas coisas a considerar neste evento:
Primeiro: os que ouviram e aceitaram: havia pelos dezasseis eis culturas naquele dia, em Jerusalém, os quais tinha vindo para a festa de Pentecostes (Act. 2.8-11).
Segundo: eles eram Helenistas, vindos da diáspora, e por conseguinte trilíngues, falavam aramaíco, hebraíco (línguas judias) e o grego (língua universal), a qual era falada por todo o Império Romano, o que iria facilitar a divulgação da mensagem cristã.
Através desta acção colectiva por parte de Deus, Ele estava demonstrando sua intenção em expandir a mensagem da salvação o mais distante possível, parecia querer dizer aos discípulos, vejam, é essa visão, entrai nela...
Infelizmente a Igreja Primitiva não absorveu a visão universalista de Jesus, pois ficaram em Jerusalém tempo demasiado, contrariando sua ordem, “ficai, até que...”
Diante da inércia da Igreja, Deus soluciona o problema, enviando a perseguição. O discurso de Estevão foi que impulsionou a Igreja primitiva a sair de suas portas e cumprir com o ide de Jesus (Act. 7.2-52).
...Ainda assim, a Igreja que deveria, como já dizemos, desenvolver uma missão centrífuga em vez de centrípeta, continuou a alimentar preconceito raciais e étnicos contra outras culturas, estava ainda dividida, vejamos alguns textos:
...A Bíblia diz que os que foram dispersos iam por toda parte, anunciando a palavra (Act. 8.4). Aqueles, pois, que foram dispersos pela tribulação suscitada por causa de Estêvão, passaram até a Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus (Actos 11.19).
Havia, porém, entre eles alguns cíprios e cirenenses (conversos do dia de Pentecostes), os quais, entrando em Antioquia, falaram também aos gregos, anunciando o Senhor Jesus (Actos 11.20).
…De certa forma a medida tomada por Deus, enviando a perseguição, fez com que os discípulos deixassem de lado algum preconceito racial e étnico que nutriam por outras nações (ex. Filipe em Samaria, grupo considerado semi-pagãos pelos judeus); desta feita a missão de Filipe em Samaria não deve portanto, ser vista como sucesso numérico, mas como cumprimento do ide de Jesus.
…O próprio Apóstolo Pedro, que andou três anos e meio com Jesus, tinha uma visão deturpada do Reino de Deus. Como o instrumento usado por Deus para pregar e abrir a porta do reino dos céus a judeus (no dia de Pentecostes cf. Actos 2), e aos gentios por Cornélio (através da visão do lençol cf. Actos 10.1-48), não compreendeu totalmente o ide de Jesus. De certa forma ele assumiu a visão, pois vemos sua ousadia em assumir aceitação dos gentios no seio da Igreja, todavia continuou dividido, vejamos:
“Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe na cara, porque era repreensível. Pois antes de chegarem alguns da parte de Tiago, ele comia com os gentios; mas quando eles chegaram, se foi retirando e se apartava deles, temendo os que eram da circuncisão. E os outros judeus também dissimularam com ele, de modo que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação. Mas, quando vi que não andavam rectamente conforme a verdade do evangelho, disse a Cefas perante todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como os judeus, como é que obrigas os gentios a viverem como judeus?” (Gálatas 2.11-14).
O carácter universal da obra só foi decidido em Actos 15, quando o Concílio de Jerusalém recebeu os gentios no seio da Igreja em pé de igualdade com os judeus, mas como veremos no último tópico somente com a conversão do Apóstolo Paulo que o Evangelho assumiu um carácter universal.

V. O Apóstolo Paulo:
Não se pode falar em missões em Actos sem mencionar o Apóstolo Paulo, sua chamada ocupa o livro desde o capítulo 13 ao 28. Considero aparte da vida, morte e ressurreição de Jesus, a conversão de Paulo como o maior evento na história do Cristianismo, uma vez que ele assumiu a sua chamada imediatamente a convocação feita por Jesus. Lucas descreve que Paulo a seguir a conversão logo nas sinagogas pregava a Jesus, que este era o filho de Deus (Act. 9.15-22).
Outro factor muito importante é que, a Igreja de Antioquia, a qual Paulo estava ligado era uma Igreja internacional, multicultural e missionária; era também uma Igreja guiada pelo Espírito Santo (Act. 13.2).
Antioquia tornou-se no centro missionário do primeiro século, pôs entendeu o carácter universal da obra de Deus. Textos no Novo Testamento que atestam a universalidade da Obra de Deus:
-a parábola da vinha
-a parábola da boa semente
-a parábola do grão de mostarda que germina uma grande árvore, onde os pássaros pousam e descansam
-o textos de Mateus 28.18-20; Marcos 16.15-20; Lucas 24.45-49; Actos 1.8 e Apocalipse 7.9.

Conclusão: concluímos que o alvo do Espírito Santo é amplificar a visão que a mensagem do Evangelho não foi algo exclusivo dos judeus, mas um direito universal de todos os povos. Essa nova perspectiva introduzida muda o paradigma de um errado e forte preconceito para uma realidade que, “Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3.28).

Reginaldo de Melo
Pastor/Teacher/Writer
BD BTh MTh
Candidate to PhD

0 comentários: